O Debate sobre a Idade Geológica da Grande Esfinge de Gizé


A Grande Esfinge de Gizé (GEG) é um dos monumentos esculpidos de rocha mais antigos do mundo. A estátua possui corpo de leão e cabeça humana. A cabeça retrata uma pessoa usando a coroa de faraó, um chapéu tripartite chamado nemes. A esfinge recebeu esse nome dos antigos gregos que chamaram-na de sphinks que pode ser traduzida como "mistério" ou "enigma". Não se sabe ao certo o verdadeiro significado de tal monumento. Por volta da 18ª Dinastia os registros egípcios escritos chamam a GEG de o deus Horemakhet (Hórus do Horizonte) cuja versão grega é Harmachis. Uma versão alternativa dessa atribuição mitológica era representada pelo deus sincrético Rá-Harmachis.

Os egiptólogos datam a GEG historicamente como tendo sido esculpida durante a 4ª Dinastia pelo faraó Khafra, chamado pelo escritor e sacerdote egípcio Maneton pelo nome grego Chéfren. Esse faraó foi também o construtor da segunda maior pirâmide do Platô de Gizé, hoje nas adjacências da cidade do Cairo.  O rosto da GEG retrata o faraó Khafra que a construiu provavelmente como sendo uma estátua guardiã de sua tumba, a sua pirâmide construída ao lado da Grande Pirâmide do faraó anterior Khufu. A idade da GEG é determinada então como sendo 4500 anos antes do tempo presente.


Analisando a geologia e arquitetura da GEG verifica-se que a estátua foi esculpida das camadas de rocha calcária que constituem o Platô de Gizé. Os calcários do qual as pirâmides de Gizé e a esfinge foram construídos pertencem à Formação Mokattam de idade Cenozoica Inferior. A esfinge foi esculpida diretamente das camadas de calcário e os blocos retirados foram utilizados para construir um templo de dedicação localizado à frente da GEG. Sendo assim, a esfinge repousa sobre uma depressão artificial que representa o local onde os blocos de calcário foram lavrados e o núcleo de rocha onde a esfinge seria esculpida permaneceu. Observando os estratos sedimentares na esfinge e nas paredes adjacentes que a encerram nota-se que estes são de diferentes tipos litológicos. Basicamente o topo da sequência sedimentar consiste de níveis calcareníticos que gradam na base para calcário com lentes fossilíferas intermitentes.


Perfil geológico simplificado da Grande Esfinge de Gizé evidenciando intercalações de camadas de calcarenitos (laranja) e calcilutitos/margas (verde claro). Em marrom e verde escuro estão representados revestimentos feitos em épocas recentes para restaurar o monumento.

Frente às feições de erosão presentes nas paredes de rocha em volta da esfinge e nela própria o Dr. Robert Shoch, especialista em geologia e geomorfologia, concluiu num artigo publicado em 1992 na revista de arqueologia egípcia KMT, que os padrões de intemperismo e erosão nas rochas da esfinge representavam chuvas torrenciais que só poderiam ter acontecido naquela região do Saara milhares de anos antes da data estipulada pelos egiptólogos. O Dr. Shoch, juntamente com o pesquisador independente John Anthony West, concluíram que a esfinge teria sido esculpida por uma civilização anterior à egípcia por volta do ano 10.500 a.C. A aparente datação geológica com base nos padrões de erosão das camadas de calcário no monumento da esfinge e nas paredes que a encerram parecia irrefutável e essa conclusão gerou um clima de tensão por parte dos egiptólogos.

Principais níveis topográficos modernos do Platô de Gizé nos entornos da Esfinge.

Era absolutamente improvável tal idade para a GEG e apontar a existência de uma civilização anterior à egípcia que teria construído monumentos no Egito pouco mais de 5000 anos antes do início do auge da civilização egípcia era ainda mais absurdo, visto que não havia sequer uma prova material dessa suposta antiga civilização construtora da esfinge. Outros argumentos levantados a favor da teoria de Shoch e West foi a identidade da face da esfinge. Seria esta realmente a face do faraó Khafra? Vários pesquisadores alternativos concluem que a face da GEG lembra muito mais feições típica de africanos do que de pessoas do Oriente Médio que possuem geralmente ossos da face mais recuados, olhos menores e nariz mais afilado. O nariz da esfinge não existe mais, no entanto, comparando as estátuas de Khafra com a face da GEG os pesquisadores alternativos concluíram que aquela face não se parecia com a do faraó, mas representava possivelmente uma pessoa importante de uma civilização africana mais antiga.

A representação artística de rostos pelos egípcios ainda é um campo de intenso debate entre os pesquisadores da área. Algumas estátuas de Khafra o representam com feições mais finas e outras o representam um pouco mais grosseiras. Estas são idealizações da face do governante? São tentativas de aproximação da realidade? Ou cada aspecto da estátua do faraó representava um ou mais atributos políticos desconhecidos de nós? É muito complexo responder essas perguntas tendo como prova material apenas estátuas desse faraó que governou durante a 4ª Dinastia, um intervalo de tempo de onde se obtém poucos documentos e artefatos que informem mais sobre sua regência. De fato, algumas estátuas de Khafra o representam com feições bem mais africanas e antropologicamente falando não há porque não dizer que o rosto da GEG é do faraó que a esculpiu analisando esta através dos tempos de sua deterioração.

Duas diferentes representações em escultura do faraó Khafra, a estátua à esquerda apresenta feições mais grosseiras da face e a estátua à direita apresenta feições mais finas do faraó. A esfinge parece um intermediário entre as duas feições do faraó. A face está muito deteriorada pelas intempéries dos milênios sendo um tanto subjetiva a interpretação.

O Dr. Shoch também observa os templos mortuários construídos durante a 4ª Dinastia no Platô de Gizé e claramente ele os descreve com padrões de erosão eólica. As camadas de rocha calcária nas paredes das tumbas e nos templos construídos em Gizé se apresentam em recuos não tão diferenciados e os contatos entre os diferentes estratos sedimentares são mais abruptos em razão de milhares de anos de abrasão das areias do Saara. Todos os templos e tumbas analisados à luz dos padrões de erosão se apresentam cerca de 10 m acima do nível topográfico onde se encontra a esfinge e as paredes que a circundam. Além de análises superficiais foram realizadas também análises sísmicas rasas que revelaram pelo menos duas camadas de rocha distintas abaixo da esfinge.


A intepretação dos perfis sísmicos mostravam, conforme as suposições preliminares do Dr. Shoch, que a primeira camada abaixo da esfinge representava um nível de calcário dissolvido e reprecipitado interpretado por ele como um nível de paleossolo calcário gerado pela erosão aquosa na época em que o Saara era mais úmido. Abaixo desta camada repousavam sedimentos calcários menos porosos que provavelmente represetava a formação geológica propriamente dita. O argumento a favor da erosão aquosa intensa da esfinge foi a observação de sítios arqueológicos na necrópole de Saqqara, alguns quilômetros a sul de Gizé, onde mastabas de nobres da 4ª Dinastia, feitas de tijolos de argila, apresentavam-se "bem preservados", conforme observado por Shoch, mostrando que tijolos de argila contemporâneos da esfinge seriam menos resistentes do que o calcário da esfinge num ambiente árido.

Com base na comparação entre o grau de intemperismo e erosão nas mastabas de Saqqara e o das camadas de calcário da esfinge, Shoch concluiu que o padrão de erosão na esfinge era definitivamente mais antigo do que a 4ª Dinastia. A partir do perfil sísmico observa-se uma camada que é fina na parte da frente da esfinge e mais espessa na sua parte de trás. Com base na suposição de que tal camada representava nível de rocha calcária intemperizada pela água da chuva, Shoch concluiu que a parte  frontal da GEG é mais antiga que a parte de trás e isto porque a esfinge foi esculpida primeiro na parte da frente revelando sua verdadeira forma, uma cabeça humana. O corpo de leão foi esculpido quando a rocha calcária foi lavrada e um templo foi construído com os blocos que sobraram e mais tarde a cabeça passou a representar alguém importante de uma civilização mais antiga do que a egípcia com base na idade estipulada por ele e West de 12500 anos. Essa hipótese invoca pelo menos duas civilizações distintas muito antigas, a primeira delas que esculpiu uma face do afloramento de calcário e a segunda se aproveitou da cabeça esculpida e ampliou o monumento esculpindo um corpo de leão na mesma. Esta hipótese não explica porque a cabeça da GEG tem então o mesmo chapeu nemes usado pelos faraós. Em defesa dessa teoria, diz-se que a civilização egípcia pode ter herdado a cultura mais antiga dessas civilizações mais antigas que, de acordo com John Anthony West, se originaram na antiga civilização avançada de Atlântida.

Observando o templo erguido à frente da esfinge, os arqueólogos concluem que estes foram feitos dos blocos de calcário retirados da pedreira adjacente que passou a compor o corpo da GEG. Shoch confirma que o calcário utilizado no templo é o mesmo calcário que compõem a esfinge. Ele também mostra que tal templo teria a mesma idade de 10.500 a.C. da esfinge. Observando o revestimento de granito rosa nas paredes externas do templo, Shoch observa que a face interna do granito é irregular como a face externa do bloco de calcário. Sua conclusão é de que os egípcios lavraram os blocos de granito e revestiram o antigo templo de calcário cobrindo as imperfeições erosivas do monumento fazendo a face interna do granito ser imperfeita também, como que cobrindo defeitos no templo.

Revestimento de granito no templo da esfinge em Gizé. As faces internas dos blocos de granito são imperfeitas e se ajustam à face externa imperfeita dos blocos de calcário. Shoch interpreta que os blocos de granito são mais recentes do que o calcário que representa um antigo templo que não foi erigido pelos egípcios sendo as imperfeições do calcário resultado de erosão aquosa de 12500 anos atrás. Os egípcios teriam coberto as imperfeições com o revestimento de granito.

O perfil de erosão na esfinge e nas paredes de seu entorno mostra basicamente camadas mais arenosas bastante recuadas no topo da sequência sedimentar, as camadas alternam razoavelmente de forma constante entre camadas mais recuadas ricas em carbonato de cálcio e camadas menos recuadas ricas em argilas. Basicamente a sequência segue da base para o topo intercalando entre calcário e calcilutitos/margas e calcarenitos. De acordo com o padrão de erosão, as rochas mais resistentes à dissolução aquosa contêm fração areia e fração argila em maior quantidade e rochas menos resistentes contêm mais fração de carbonatos do que areia e argila. Sendo assim, as camadas sedimentares erodidas pela ação de água corrente recuam conforme a resistência de cada uma. O calcário mais resistente dissolve menos e apresenta-se menos recuado do que o calcário menos resistente. O perfil de erosão resultante são intercalações de camadas com diferentes recuos laterais aflorantes. O padrão de erosão aquosa típico apresenta partes abauladas na rocha, regiões mais arredondadas em padrões de colunas, etc.

Modelos de perfis de erosão por ação da água na forma de seção colunar estratigráfica e a comparação com a parede circundante da GEG mostrando semelhança com os modelos.

As feições de erosão descritas nas camadas de calcário da mesma formação geológica da esfinge, Formação Mokattam, nas paredes de templos e tumbas adjacentes em um nível topográfico mais elevado, apresentam-se bem de forma bem diferente, com as camadas menos reisistentes tendo recuo abrupto em relação às camadas mais resistentes e apresentando padrões de desgaste por abrasão típico de erosão eólica. Estas são descrições aceitas por todos os geólogos que visitaram e descreveram a geologia local incluindo as feições geomorfológicas dos monumentos. Então qual das conclusões está equivocada? A datação arqueológica e histórica dos egiptólogos ou a datação feita através da geologia? Para conciliar os dados arqueológicos com as observações geológicas o geólogo Dr. James Harrell publicou um artigo em 1996 onde ele enfatiza que os argumentos estritamente geológicos de Shoch não podem ser prontamente refutados pelos egiptólogos, no entanto, sua interpretação sobre a descrição geológica e, principalmente, geomorfológica é que pode estar equivocada. O Dr. Harrell começa sua análise dos padrões de erosão da esfinge interpretadas pelo Dr. Shoch como sendo de origem pluvial.

Feições de erosão aquosa nas paredes de calcário que circundam a GEG. Notar os padrões arredondados típicos de intemperismo e erosão química aquosa interpretada por Robert Shoch como evidência de chuvas constantes ocorridas no Saara há 12500 anos.

Harrell menciona que muitos fatores ambientais foram deixados de lado nas análises de Shoch, o mais importante de todos foi a sua suposição de que nenhuma outra forma de umidade existia no Saara durante a 4ª Dinastia e que somente por volta de 12000 anos atrás é que o Saara tinha condições de umidade suficientes para gerar as feições de erosão observadas no monumento. No entanto, o Platô de Gizé constantemente recebe aporte de areia que encobre muitos dos monumentos com várias camadas de areia. A esfinge, por estar num nível topográfico mais rebaixado em relação ao topo do platô, foi periodicamente coberta por dunas. As evidências históricas mostram o quanto essas coberturas de areia eram frequentes. A Estela do Sonho, artefato que jaz na frente da GEG, conta a anedota do rei Tuthmosis IV da 18ª Dinastia onde ele sonha com a esfinge que pede a ele para retirar a areia que a sufocava por tanto tempo e se ele assim o fizesse ela o faria ser rei do Egito. Esse relato mostra que já na época de Tuthmosis IV a esfinge permanecia sob a areia.

Além dos depósitos eólicos que de tempos em tempos encobriam a esfinge, cerca de 4500 anos atrás, na época da 4ª Dinastia, o rio Nilo inundava as regiões próximas da esfinge durante as cheias. É provável que em épocas de tempestades, que são abruptas no Saara, as cheias fossem mais intensas e a GEG fosse então vítima de enxurradas. Vários depósitos aluviais cascalhosos são descritos no Vale dos Reis próximo da antiga cidade de Tebas, onde se encontram as tumbas de muitos faraós e seus familiares. Os depósitos de cascalho mais antigos datam da 18ª Dinastia e representam registros de enxurradas abruptas causadas por violentas tempestades. Durante essas enchentes, um enorme volume de água escoava pelo vale trazendo toneladas de sedimentos e muitos destes soterraram várias tumbas. Evidências de tempestades abruptas e violentas estão descritas em papiros que datam desde o Reino Médio (12ª Dinastia) na forma de mitologia e magia. Ali os escribas e sacerdotes descrevem a batalha entre a serpente Apep (Apophis) do submundo, representando o caos e a destruição, e o deus Rá. Os papiros apresentam encantamentos mágicos para sossegar os ventos e as tempestades que ameaçavam o deus Rá. Muitas comparações eram feitas entre as violentas tempestades vindas do deserto com o deus Seth (também chamado de Setesh) que representava também o caos e a destruição.

As regiões topograficamente mais elevadas e/ou mais distantes das margens do Nilo como as tumbas e templos de Gizé, localizadas acima do nível altimétrico da GEG, e as mastabas da necrópole de Saqqara, eram submetidas a condições menos intensas de erosão por ação da água. As regiões altas de Gizé e Saqqara seriam submetidas mais intensamente à erosão eólica e isto explica o porquê dos padrões de erosão eólica nos monumentos de Gizé e os tijolos de argila das mastabas aparentemente mais bem preservados do intemperismo em Saqqara. A observação qualitativa do grau de intemperismo e erosão das mastabas de Saqqara não pode ser um parâmetro muito bom de comparação, porque trata-se de diferentes tipos de materiais. O Dr. Harrell mostra em seu artigo o quanto as mastabas estão degradadas pelo intemperismo.

Tal qual as mastabas mencionadas por Schoch e Harrell, essa é uma parte do muro feito de tijolos de argila que cercavam o templo mortuário de Khasekhemwy, último faraó da 2ª Dinastia, na necrópole de Saqqara. Esses muros têm cerca de 5200 anos de idade e não apresentam padrão de intemperismo condizente com as análises propostas de Shoch de que os tijolos de argila mais antigos que a Esfinge deveriam estar mais bem preservados. O estado de preservação do intemperismo dessas paredes é muito bom e, a Esfinge, deveria estar bem mais deteriorada de acordo com a proposta de Shoch de uma idade de 12500 anos. O muro de Khasekhemwy deveria estar bem menos preservado mesmo estando numa região de baixa umidade distante das fontes do Nilo.

Devido aos depósitos de areia que soterravam a GEG, Harrell explica que uma grande quantidade de água é acumulada nos poros dos depósitos eólicos e toda essa água acumulada das cheias do Nilo e das tempestades e chuvas esporádicas desce para uma região nas dunas chamada de zona saturada. Essa zona descansava sempre na base da esfinge e toda essa umidade também age ativamente na dissolução do calcário da esfinge e das paredes que a circundam. A feição erosiva gerada nesse processo é muito similar à feição de erosão pluvial torrencial como interpretada por Shoch. A quantidade de água acumulada nos depósitos eólicos é grande o suficiente para formar um aquífero temporário. Harrell menciona que na época das expedições napoleônicas no Egito, as escavações para retirar areia da esfinge liberaram enormes quantidades de água que inundaram o local onde os trabalhadores retiravam a areia. O Saara pode acumular de tempos em tempos quantidades grandes de água subterrânea. Recentemente houve a notícia de que neve caiu nas dunas do Saara na região da Algéria, um evento que havia ocorrido pela terceira vez na região após trinta anos. Um exemplo hidrogeológico é o do Sistema de Aquífero Núbio, um gigantesco aquífero cuja rocha reservatório são arenitos do Grupo Núbio abrangendo todo o Egito e partes da Líbia e do Sudão.

Perfil hidrológico ilustrativo do sistema de aquífero nos depósitos eólicos do Saara que contribuem para a recarga do Nilo. Esse sistema infiltra nas dunas que cobrem a GEG periodicamente.

Harrell conclui mostrando que a ação intempérica das águas subterrâneas acumuladas dos eventos ocorridos no Saara nos últimos 4500 anos de existência da GEG foi a responsável pelas feições de erosão aquosa observadas e bem descritas nas camadas de calcário que compõem o monumento e suas paredes adjacentes. Com respeito à interpretação do perfil sísmico, a suposição de um nível de rocha intemperizada na base e abaixo da esfinge não se sustenta por completo. Descrições geológicas detalhadas foram realizadas antes de Shoch em Gizé e a descrição da Formação Mokattam mostra que camadas de calcário com lentes de calcário poroso lumulítico (fossilífero) jazem em certas porções dos estratos sedimentares. A camada de rocha intemperizada pela ação da água subterrânea existe, mas sua espessura não ultrapassa poucos metros de profundidade. A descrição geológica das camadas abaixo da GEG deixa claro que o perfil sísmico pode ter mostrado as camadas de calcário lumulítico em vez de espesso pacote de carbonatos reprecipitados. Shoch comenta que a parte da frente da esfinge seria mais nova que a parte de trás devido à diferença de espessura dessas camadas de rocha intemperizada. No entanto, Harrell comenta que se fosse esse o caso a porção mais espessa na parte detrás da esfinge deveria ser a mais intemperizada e, portanto, a mais antiga, e Shoch apresenta o argumento inverso entrando em contradição quanto à sua suposição de que as camadas vistas no perfil sísmico se tratam de solo calcário e não de rocha sedimentar propriamente dita.

Com respeito ao revestimento de granito do templo da esfinge, Harrell comenta que a prática egípcia antiga de lavra de rochas para construção e, principalmente, de rochas ornamentais para revestimento de monumentos, era polir uma face do bloco e deixar a outra imperfeita. Isto poupava trabalho e tempo para finalizar as obras de construção. Harrell mostra que em vários monumentos egípcios esse padrão se repete. O mais provável de ter acontecido no templo da esfinge foi que os egípcios lavraram os blocos de calcário e deixaram sua face externa irregular porque eles iriam cobrir com revestimento de blocos de granito que eram necessários serem polidos apenas na sua face externa. O argumento de Shoch era que as imperfeições no calcário eram exatamente equivalentes às imperfeições na face interna do granito, e isto seria possível apenas se o calcário fosse mais antigo do que o granito. No entanto, o contrário também acontece, mais logicamente, os egípcios lavraram as rochas mais difíceis, o granito, oriundo provavelmente da pedreira de Aswan no Alto Egito, enquanto os blocos de calcário foram extraídos bem próximos, dos restos da própria esfinge. Sendo assim, os egípcios lavraram os blocos de granito deixando uma face imperfeita e depois acomodaram os blocos de calcário de acordo com as imperfeições nos blocos de granito. Em resumo, foi o calcário que se moldou às imperfeições do granito e nã o granito que teve de ser moldado às imperfeições externas dos blocos de calcário. O artigo do Dr. James Harrell mostra que a descrição geológica é universal quando bem feita, como aconteceu no caso analisado, mas a interpretação geológica deve ser cuidadosa.


Referências:

J. A. Harrell, The Sphinx Controversy: Another Look at the Geological Evidence. KMT Vol. 5, No. 2, Summer 1994, pp 70-4

R.M. Schoch, "Redating the Great Sphinx of Giza," KMT 3:2, 53-59, 66-70

Said and L. Martin, "Cairo area geological excursions notes," F. Reilly, ed., Guidebook to the geology and archaeology of Egypt, Petroleum Exploration Society of Libya, Sixth Field Conference (1964), 107-121

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